Queria poder entender essas tristezas que me
assolam vez ou outra.
Queria ser pluma, vento leve, papel de seda
colorido.
Queria horas de feitiço, de véus que vão caindo um
a um mostrando as faces do dia e que em todo entardecer a voz da quietude me
falasse como criança e me desse a paz que as noites precisam.
Não mais ter que inventar alegrias, que elas
viessem sem serem chamadas, que chegassem como boas novas, recém-nascidas e
cheirando a flor do campo.
Sei que são coisas passageiras essas minhas
aflições e que logo mais quando eu me olhar no espelho verei refletida uma
imagem onde a realidade se sobrepõe ao medo e se o fio da navalha me cortar a
carne sempre haverá alguém a me soprar a ferida.
Porque a vida é assim,
feita de dores e alegrias,
de cantos e lamentos,
de desertos e mares.
Esses muros que agora me cercam serão derrubados um
a um e terei um vasto campo onde as possibilidades serão inexatas e ao mesmo
tempo de proporções imensas.
Que me julguem louca,
que me atirem pedras,
que importa isso se só eu sei onde moram minhas
dores,
onde morro e onde vivo.
Só eu sei onde meu sangue jorra e por quem meus
olhos brilham.
Quero conviver com meus fantasmas até o limite
possível,
até que eu possa exorcizá-los e com ar de pouco
caso dizer: ei, vocês não me assombram mais, não passam de imagens distorcidas
que minha mente buscou quando minha alma era feita de espasmos.
Ainda há pouco passaram borboletas pela minha
janela.
Voei com elas até onde meus olhos puderam
acompanhar,
depois voltei o olhar para dentro e percebi que
algumas haviam ficado.
Estão aqui agora,
fazendo cócegas no meu estômago.
Lou Witt
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